Que quantidade de água suas plantas precisam?

ROTEIRO PARA FAZER O CÁLCULO DA NECESSIDADE DE ÁGUA DAS PLANTAS DO SEU JARDIM:

Para as plantas de jardim, resulta difícil encontrar dados de quantidade de água necessaria,  precisos e rigorosos para cada espécie. Na verdade o número de espécies cultivadas é imenso e além disso, os estudos neste campo estão menos desenvolvidos.
Assim, nas condições atuais a maioria dos especialistas recorre a valores orientativos estabelecidos com base nos dados existentes para as horticulturas ou fruteiras.

Nas nossas condições, tendo em atenção os dados de que dispomos podemos, a título orientativo, tomando como referência plantas isoladas ou plantadas em muito baixa densidade, estabelecer os seguintes valores:

1 –  Árvores e arbustos de folha persistente

Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/planta/dia)

Fase de desenvolvimento Outono / Inverno Inverno / Primavera Verão
Árvores pequenas ou arbustos 30 – 15 20 – 50 55 – 75
Árvores grandes 50 – 20 25 – 70 75 – 100

2 Árvores de folha caduca (árvores que trocam toda folhagem anualmente)

Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/árvore/dia)

Fase de desenvolvimento Primavera Verão Outono
Árvores pequenas 25 – 50 60 – 70 45 – 40
Árvores grandes 30 – 75 90 – 100 70 – 50

3 –  Arbustos de folha caduca

Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/planta/dia)

Fase de desenvolvimento Primavera Verão Outono
Arbustos pequenos 20 – 45 50 – 70 40 – 30
Arbustos grandes 25 – 60 75 – 90 55 – 40

4 –  Plantas herbáceas e pequenos arbustos semi-lenhosos

Quantidade de água a aplicar com rega localizada (litros/m2/dia)

Fase de desenvolvimento Outono / Inverno Inverno / Primavera Primavera Verão
Plantas pequenas ou após a plantação (cobrindo até 20% do solo) 1,50 – 0,60 0,75 – 2,00 2,50 – 3,00
Plantas médias (cobrindo de 20% a 60% do solo) 2,50 – 1,00 1,75 – 3,50 4,00 – 5,00
Plantas grandes (cobrindo mais de 60% do solo) 3,00 – 1,20 2,00 – 4,00 5,00 – 6,00

Os valores supra indicados são orientativos, devendo-se escolher os mais baixos quando as plantas têm menor porte e o solo está limpo de ervas e os mais elevados quando as plantas são mais desenvolvidas e/ou, o solo está coberto no todo ou em parte com infestantes ou outras plantas que aumentem a evapotranspiração da zona a regar bem como quando do uso de rega por aspersão ou no interior de estufas.
Igual cuidado se terá no referente à época do ano aumentando ou diminuindo os valores de acordo com a maior ou menor evapotranspiração, que é influenciada pelo calor, pelo vento, pela humidade, pela chuva, etc.
Como foi referido a quantidade de água necessária para a rega dependerá principalmente da quantidade de água que as plantas perdem por evapotranspiração (ETc).
Assim conhecidas as características de humidade do solo local, a eficiência da rega e o valor da ETc estimada para as plantas a regar, o profissional de jardinagem pode estabelecer um plano de rega.
Todavia, num jardim onde convivem em simultâneo várias espécies, em diferentes fases de desenvolvimento, resulta difícil determinar a ETc para as diferentes plantas.
As taxas de evapotranspiração foram estabelecidas para gramas e certas culturas agrícolas, aplicando a relação de acordo com o anterioemente referido:

ETc = Kc x ETo

onde:
ETc  – Evapotranspiração da cultura;
Kc  –   Coeficiente de cultivo;
ETo – Evapotranspiração da cultura em referencia.

Alguns coeficiente de cultivo (Kc) para diversas culturas agrícolas e gramados apresentam-se no Quadro I.

Espécie Kc baixo Kc alto
Videiras 0,60 0,80
Oliveira 0,58 0,80
Citrinos (laranja, limão) 0,65 0,65
Gramados (inverno) 0,80 0,80
Gramados (verão) 0,60 0,60
Árvores (folha caduca) 0,50 0,97
Árvores (folha caduca com cobertura vegetal) 0,98 1,27

Fonte: Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R. (1991)

* Os valores baixos são para árvores temporãs  e os altos para a média estação.

VALORES ORIENTATIVOS PARA A REGA DE GRAMADOS (FÓRMULA DE CÁLCULO)

Quadro II – Valores de Epan (evaporação em mm ou l/m²), registrados numa Tina Evaporimétrica Classe A, instalada no CEHFP. (1986/87 a 1996/97)

Mês J F M A M J J A S O N D
Epan 1,7 2,4 3,6 5,2 6,3 8,2 8,8 7,8 5,9 3,7 2,1 1,8

Para estimar a água a aplicar vamos tomar como referência os valores da evapotranspiração do gramado.

Primeiro, com os dados da evaporação, é feita uma estimativa da evapotranspiração de referência (Eto), que se obtém com base na seguinte relação:

Eto = Epan x Kp

Eto – Representa a evapotranspiração de uma cultura de gramíneas verdes, de altura uniforme (8 a 15 cm) com crescimento ativo cobrindo um solo bem abastecido de água (mm)
Epan – Evaporação numa tina evaporimétrica de Classe A. Representa a perda de água por evaporação na superfície da tina (mm).
Kp – Coeficiente específico relativo à Tina de Classe A. Representa a relação entre a evapotranspiração da cultura de referência (Eto) e a perda de água por evaporação na superfície de água livre de uma tina (Epan).
Os valores deste coeficiente variam com a extensão e o estado da vegetação que cobre o solo em redor da tina, bem como com as condições de humidade e de vento. Pode variar entre 0,55 e 0,85.

A rega é depois estimada aplicando a fórmula:

Rega = Eto x Kc

Rega – Representa a quantidade de água a aplicar ao gramado (l / m2)

Kc – Coeficiente de cultura. De acordo com as maiores ou menores exigências do gramado em água os valores poderão oscilar entre 0,6 e 0,8.

Como é evidente, para calcular com exatidão a quantidade de água num gramado será necessário o conhecimento e a determinação no local de inúmeros dados (evaporação, velocidade do vento, humidade, valores de Kp e de Kc, etc.).

Todavia, em grande parte dos casos tal informação não existe, ou está incompleta, e estudá-la no local nem sempre é fácil. Por essa razão no Quadro III indicamos valores orientativos para a rega de gramados.
Nesta estimativa tivemos como referência os valores da evaporação do Quadro II e estimamos Kp=0,8 e Kc = 0,7.

Simplificando temos: REGA = Epan x 0,8 x 0,7

REGA = Epan x 0,56 (l / m2)

Quadro III – Valores orientativos para a rega de um gramado ( l / m²/ dia)MÊS

Mês J F M A M J J A S O N D
Rega 0,95 1,34 2,01 2,91 3,52 4,59 4,92, 4,36 3,30 2,07 1,18 1,00

No caso das plantas de jardim não há dados tão precisos e resulta difícil encontrar Kc estudados para cada espécie.
Além disso, como já referimos, em jardinagem não é fácil estabelecer valores para ETc mediante determinadas condições convencionais.
Assim os coeficientes de cultura para jardins determinam-se utilizando algum outro método.

Existem três razões para isso:
1 –  Ao contrário das culturas agrícolas, ou dos gramados, um jardim é formado por numerosas espécies e uma mistura variada de vegetação, por exemplo, árvores, arbustos, plantas rasteiras, etc.

Resulta assim praticamente impossível medir a ETc e estabelecer Kc para cada espécie utilizada no jardim, por haver demasiadas.
Para mais a maior parte dos jardins inclui várias espécies regadas simultaneamente no mesmo setor de rega.
Logo tendo em conta que a maioria das zonas de rega num jardim incluem um amplo número de espécies, assinalar um só Kc não seria correto.
Seria mais correto escolher um Kc global para todas as espécies do setor de rega.
O encarregado poderia então utilizar este valor de Kc e estimar a ETc de todas as plantas da zona regada.

Apesar de esta aproximação global poder ser mais adequada que determinar os Kc de cada espécie particular, não deixa de ser pouco prática.
De fato considerando o n.º de espécies, possível e o ilimitado o número de combinações que podem existir num jardim, não resulta simples estabelecer um Kc com base em determinações de campo.

2 – Os jardins combinam um elevado número de densidades de plantação. Assim um jardim recém implantado tem menor área foliar que uma plantação já estabelecida há vários anos.
Os jardins com uma elevada densidade de plantação podem ter maiores perdas hídricas por transpiração que as zonas de baixa densidade de plantação.
Um jardim misto (com árvores, arbustos e plantas rasteiras) necessita de mais água do que um jardim semelhante só com plantas rasteiras.
Uma plantação de árvores de folha caduca perde entre 25 a 80% mais de água com coberto vegetal que sem ele.
Ao aumentar a área foliar evaporante na plantação também aumentará o Kc cultural.
Nos jardins ocorrem situações semelhantes. Assim num jardim teremos que atender a plantações com baixa, média e elevada densidade.

3 – Muitos jardins incluem uma variação de microclimas: lugares mais frescos, sombreados e protegidos de outras zonas mais quentes e ensolaradas.
Estas variações influem de modo significativo na evapotranspiração (ETc). Assim os Kc do jardim têm que ter em conta as diferenças na ETc resultantes dos efeitos microclimáticos.

Os valores da evapotranspiração de referência (ETo) são indicativos de perdas em zonas amplas, pelo que a ETo não tem em conta os aumentos devidos à presença de superfícies refletoras e calor gerado pelos pavimentos ou as descidas da ETc nas zonas sombreadas.
Assim os coeficientes de jardim devem incluir um fator para a variação microclimática e será difícil que estes valores se estabelecem com ensaios de campo.

Pelas razões apontadas e outras, não resulta prático determinar as necessidades hídricas para um jardim à base da ETc e do cálculo de Kc.
Parece mais razoável “ESTIMAR” os coeficientes de jardim (Kj) para plantações baseando-nos em avaliações de campo de espécies plantadas, na densidade da vegetação e no microclima da zona a regar.
Assinalando os valores numéricos adequados a cada um destes fatores, poderíamos calcular um valor para o Kj.
Esta aproximação teria em conta as variações que afetam o uso da água e os planos de rega poderiam-se adaptar às condições de cada zona a regar.

O MÉTODO DO COEFICIENTE DE JARDIM (Kj)

A quantidade de água perdida por um jardim, devido à evapotranspiração da cultura (ETc), varia em função da espécie cultivada, da densidade de vegetação e das condições microclimáticas.
Avaliando cada fator e atribuindo-lhe um valor numérico, podemos estimar quanta água se perde em relação à da evapotranspiração de referência (ETo). Assim a relação é a seguinte:

Kj = Ks x Kd x Kmc

Sendo:
Kj  – Coeficiente de jardim
Ks  – Fator de espécie
Kd – Fator de densidade
Kmc – Fator de microclima

Com estes 3 fatores encontramos então um único coeficiente de jardim (Kj).
Este coeficiente utiliza-se para aproximar as perdas por evapotranspiração de um jardim ETj relativas à ETo com base na seguinte relação:

ETj = Kj x ETo

Estes 3 fatores, Ks, Kd e Kmc podem variar consideravelmente entre os distintos jardins e inclusive dentro do mesmo jardim. Os valores propostos para cada fator são os indicados, mais adiante, no Quadro IV.
Por outro lado os coeficientes culturais não têm em conta a variação em espécies, densidades e microclima.
O Kc de uma cultura procura assegurar condições ótimas de rega às culturas e o Kj é uma aproximação aos valores que proporcionem a água necessária para manter uma certa estética no jardim.
Mais do que representar a quantidade de água que se perde num jardim, Kj é uma estimativa da água necessária para manter uma certa qualidade paisagística.

QUADRO IV – Valores estimados para os factores espécie (Ks), densidade (Kd) e microclima (Kmc) utilizados para determinar o coeficiente de jardim (Kj) para alguns tipos de vegetação.

Tipo de vegetação Fator de espécie (Ks) Fator de densidade (Kd) Fator de microclima (Kmc)
a m b a m b a m b
Ávrores 0,9 0,5 0,2 1,1 1,0 0,5 1,4 1,0 0,5
Arbustos 0,7 0,5 0,2 1,1 1,0 0,5 1,3 1,0 0,5
Plantas rasteiras 0,7 0,5 0,2 1,1 1,0 0,5 1,2 1,0 0,5
Plantação mista 0,9 0,5 0,2 1,3 1,1 0,6 1,4 1,0 0,5
Gramados 0,8 0,7 0,6 1,0 1,0 0,6 1,2 1,0 0,8

Fonte: Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R. (1991)

Os valores a, m e b têm em conta elevadas, médias ou baixas exigências em água nos três fatores considerados. Os valores para árvores, arbustos e plantas rasteiras são para utilizar em jardins que contenham só ou predominantemente um destes três tipos de vegetação.
As plantações mistas são formadas por 3 tipos de vegetação (Árvores, Arbustos e Plantas rasteiras) em que nenhuma predomina sobre as outras.
Para situações intermediarias consideraremos valores intermédios tendo em atenção a situação predominante.
Nos valores de Ks para gramados, os valores altos são mais adequados às espécies de estação fria e os baixos para as de estação quente, ou seja, relvados mais ou menos exigentes em água.

FATORES NECESSÁRIOS PARA DETERMINAR Kj

FATOR DE ESPÉCIE (Ks)

As espécies vegetais variam consideravelmente em relação às suas taxas de transpiração. Algumas, transpiram grandes quantidades de água, enquanto que outras muito menos.
Por outro lado, as plantas transpiram mais quando a água é facilmente disponível e menos quando se reduz a quantidade de água disponível.
Nos jardins algumas plantas requerem muita água para manter o seu valor estético (por exemplo: hortênsias, cerejeiras, rododendros).
Outras, pelo contrário requerem pouca (por exemplo: oliveiras).
Dados mais precisos sobre as necessidades e exigências das culturas podem ser encontrados em manuais e revistas.
Tendo em conta as amplas margens de exigências hídricas das plantas de jardim, no Quadro IV incluem-se 3 categorias segundo a espécie: elevada, média e baixa.
Os responsáveis pela rega devem basear-se na sua própria experiência e em manuais para determinar a categoria onde incluir cada espécie determinada.
Os valores para o fator espécie, do Quadro IV, estão baseados em várias fontes de informação.
Os valores para árvores são aproximações de coeficientes de cultura(Kc) de fruteiras no campo, que variam entre 0,56 e 1,19.
Assumimos que as árvores de jardim podem ter uma ETc menor e permanecer esteticamente bem, pelo que ajustamos os Kc diminuindo o seu valor.
“O importante não é dar à planta os valores ótimos em água mas sim dar ao jardim uma forma esteticamente aceitável.”
Os valores do fator de espécie para plantas rasteiras teve por base experiências de campo com diversas espécies destas plantas. Quando se regaram com frações de ETo entre 20 e 100% a maioria manteve condições aceitáveis para valores em redor dos 50% de ETo.
Assim vamos utilizar o valor médio 0,5 para estas plantas. É verdade que algumas requerem menos e outras mais, pelo que se incluiu também os valores (0,2) baixo e (0,7) alto.
Os valores do fator de espécie para arbustos são aproximações baseadas nas cifras para plantas rasteiras, uma vez que os arbustos são mais parecidos, pela sua forma e tamanho a estas do que às árvores.
Até termos dados de campo para espécies de arbustos consideremos válidas estas aproximações.
As plantações mistas deverão ter uma margem de uso similar às das árvores, arbustos e plantas rasteiras.
É importante ter em conta que algumas plantas podem sobreviver sem rega durante os meses de Verão, uma vez que se tenham adaptado e estabelecido no terreno. Assim se não for necessário regar, não se rega.
É importante referir que na aplicação do fator de espécie se atenda, dentro do possível, ao seguinte:“As espécies com necessidades hídricas semelhantes devem agrupar-se em zonas de rega comuns.”

FATORES DE DENSIDADE E MICROCLIMA (Kd e Kmc)

Os jardins diferem consideravelmente quanto à densidade de vegetação e microclima. Ambos os fatores influem nas perdas de água globais do jardim.
Assim baixas densidades de plantação e zonas sombreadas utilizam menos água que plantações de alta densidade e em pleno Sol. Por isso a organização da rega pode e deve permitir estas diferenças.
Para tornar possível este fator os mesmos são estimados em % do fator de espécie, multiplicando o valor obtido pelo deste fator.
O valor médio de cada fator é 1,0 e os incrementos de fator densidade e microclima obtêm-se aumentando este valor até 1,4.
As reduções no consumo obtêm-se diminuindo o mesmo valor até 0,5.

EXEMPLO:Utilizando um valor de 1,3 para o Kd (ou para Kmc) iríamos ajustar, para cima, o fator de espécie em 0,3 (30%).
Do mesmo modo se poderia diminuir em 50% utilizando 0,5 para Kd ou para Kmc.
Estes ajustes gerem um Kj que especifica, dentro da espécie, as condições específicas da zona a regar.

FATOR DE DENSIDADE

Os jardins recém plantados e os com plantas espaçadas têm, geralmente, uma menor superfície foliar que os jardins adultos e/ou muito densos de vegetação, perdendo por isso menos água.
Pode dar-se o caso de haver plantas individuais muito exigentes em água, mas plantadas espaçadamente consomem menos água que uma plantação menos exigente mas densamente povoada.
Considerando estas diferenças os valores de Kd foram estimados entre 0,5 e 1,3 (50% a 130% de Ks).
Determinar um valor para a densidade é função do tipo de vegetação. As densidades, altas, médias ou baixas, para as árvores, dependem da cobertura vegetal e do índice de área foliar de cada árvore individual.
Ensaios realizados no campo mostram que as perdas de água são semelhantes para coberturas vegetais entre 60 e 100% da área plantada.
Assim iremos utilizar o valor Kd = 1.0 para coberturas vegetais superiores a 60%.
Podemos definir uma cobertura vegetal como “a percentagem de solo sombreado”.
50% de cobertura vegetal representa uma sombra que cobre 50% de solo por baixo das árvores.
Quando as árvores representam o tipo de vegetação predominante, mas há também arbustos e plantas rasteiras, aconselha-se um ajuste para cima do valor Kd.
Na verdade os arbustos e plantas rasteiras representam outra capa de vegetação e a perda de água será maior do que se esta capa estiver ausente.
Neste modelo não se têm em conta as perdas de água por evaporação do solo. Uma maneira de as diminuir é utilizando cascas ou outro material, para cobrir o solo.
Os arbustos e plantas rasteiras consideram-se quase equivalentes no valor de Kd.
Uma cobertura de 90 – 100% do solo com arbustos ou plantas rasteiras representa uma condição média, para este tipo de vegetação (Kd=1.0).
Valores de densidade mais altos são usados quando a plantação base são arbustos ou plantas rasteiras, mas existe outro tipo de vegetação.
Por exemplo, quando se plantam arbustos ou árvores sobre plantas rasteiras há um aumento de densidade de vegetação que conduz a um Kd maior, que o da planta rasteira isoladamente.
Do mesmo modo, quando os arbustos e plantas rasteiras não cobrem totalmente a superfície do solo, devem-se esperar reduções no consumo de água.
Uma zona recém plantada com plantas rasteiras não consumirá tanta água como uma área já adulta. Nestes casos vamos escolher um Kd entre 1,0 e 0,5.
Os jardins mais comuns são plantações mistas.É com este tipo de vegetação (árvores, arbustos, plantas rasteiras) que se obtêm as maiores densidades de plantação.
Uma plantação de fruteiras, com cobertura vegetal, pode ter uma ETc entre 25 a 80% maior que no caso de solos limpos de vegetação.
Geralmente a uma maior superfície foliar corresponde uma maior ETc.
Nos jardins as plantas rasteiras podem plantar-se debaixo das árvores. De modo semelhante arbustos e plantas rasteiras plantam-se conjuntamente nas mesmas condições.
Nestas condições obtêm-se “capas” de vegetação (Figura 1). Este efeito de capa aumentará a perda total de água.

A área foliar transpirante será provavelmente maior numa plantação de 3 “capas” do que numa plantação de 2 ou 1 “capa”.
Portanto os valores de Kd para plantações de elevada densidade são também mais altos do que nos outros tipos de vegetação.
Assim uma plantação de elevada densidade com todos os tipos de vegetação em simultâneo teria um valor máximo de Kd=1,3.
Também podemos encontrar plantações mistas de baixa densidade. Nestes casos será adequado reduzir Kd = 0,6.
A densidade de vegetação média é função do que consideramos alta ou baixa densidade. Assim é sempre muito subjetivo determinar este dado. O valor médio em caso de dúvida será de Kd = 1,1.

quantidade de água

FIGURA 1

Plantações mistas de alta e baixa densidade.Jardim de elevada densidade com 3 capas de vegetação.Kd = 1,3
Jardim misto de baixa densidade.Kd = 0,6

FATOR DE MICROCLIMA
As condições ambientais podem variar consideravelmente num jardim. As estruturas e o pavimento típico dos jardins urbanos podem influir consideravelmente nas temperaturas foliares e do ar, no vento e na humidade.
Assim, por exemplo, as árvores das zonas de estacionamento estão submetidas a maior temperatura e menor humidade que as árvores dos parques.
Denomina-se “microclima” cada zona com distintas condições ambientais dentro de uma mesma zona climática.O fator microclimático (Kmc) utiliza-se para diferenciar estas diferenças na estimativa do Kj. O fator microclimático é relativamente fácil de definir.

Registre-se que apesar do coeficiente Kj se utilizar como um coeficiente cultural ele, tecnicamente, não o é. Os Kc calculam-se a partir de ensaios de campo o que não é o caso de Kj.
Uma situação microclimática média é aquela em que os edifícios, pavimentos, estrutura, pendentes e superfícies refletoras não influem no microclima do lugar. O Kmc médio será 1,0.
Numa situação microclimática “alta”, as características do lugar aumentam as condições evaporantes na zona de rega.
As zonas ajardinadas rodeadas de superfícies que absorvem o calor, as superfícies refletoras e as que estão expostas ao vento devem ter um Kmc mais elevado (por exemplo, parques de estacionamento, zonas a oeste dos edifícios, zonas a oeste e a sul das pendentes, zonas ventosas, etc.).
Estas zonas terão valores de Kmc de 1,0 a 1,4.
As situações microclimáticas “baixas” são tão frequentes como as altas.
Os jardins que estão sombreados durante uma parte do dia ou que estão protegidos dos ventos terão valores mais baixos de Kmc (estas zonas incluem as partes norte dos edifícios, pátios, zonas por debaixo de varandas e as pendentes orientadas a norte). Nestes casos os valores de Kmc serão entre 0,5 e 1,0.

EXEMPLOS UTILIZANDO A FÓRMULA DE kj

Nos exemplos seguintes mostra-se como a fórmulaKj = Ks x Kd x Kmcse pode aplicar em jardins com ampla variedade de espécies, densidades e condições microclimáticas. Os valores escolhidos baseiam- se na experiência e em observações de diferentes autores.

1) Plantação mista de Magnolia grandillona, Alnus incana, Hydragea, Camellia, Vinca e Trachelospermum jasminoides.
Trata-se de um jardim adulto, sombreado pela tarde e protegido do vento (Ver Quadro IV).

Ks = 0,8 Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,2 Kj = 0,8 x 1,2 x 0,6
Kmc = 0,6 Kj = 0,58

2) Plantação mista de Baccharis pilularis, Dodonaca viscosa, Juniperus chinensis, Oliveiras e Plantas rasteiras pouco exigentes. O jardim está plenamente estabelecido, fica exposto ao Sol todo o dia, com ventos fortes à tarde (Ver Quadro IV).

Ks = 0,2 Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,1 Kj = 0,2 x 1,1 x 1,3
Kmc = 1,3 Kj = 0,29

3) Jardim de cerejeiras de flor, próximo de um edifício que reflete a luz e o calor durante a tarde (Ver Quadro IV).

Ks = 0,8 Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,0 Kj = 0,8 x 1,0 x 1,4
Kmc = 1,4 Kj = 1,12

4) Jardim com um tapete de Hyperium numa pendente de um parque, em pleno Sol e sem vento (Ver Quadro IV).

Ks = 0,5 Kj = Ks x Kd x Kmc
Kd = 1,0 Kj = 0,5 x 1,0 x 1,0
Kmc = 1,0 Kj = 0,5

Kj E KTj E MANEJO DO JARDIM

Os valores de kj usam-se depois para calcular ETj a partir da fórmula:

ETj = Kj x ETo

A estimativa das perdas de água do jardim, por evapotranspiração, são utilizadas para programar, semanal ou mensalmente as regas.
Esta informação deve ser complementada com dados sobre a eficiência de rega, a capacidade de retenção do solo, a água existente no solo, profundidade das raízes, etc.
Ter em atenção que os valores de Kj são estimativas para usar a título orientativo, devendo ser ajustados para cima ou para baixo sempre que se justifique, em função das condições locais e da experiência que a pouco e pouco se irá adquirindo no seu manejo.

EFICIÊNCIA DE REGA

O Kj estima as necessidades hídricas das plantas de jardim. Todavia os sistemas de rega nem sempre são totalmente eficientes e o jardim requererá um excesso de água, em relação à estimada mediante o Kj, para compensar essa ineficiência.
Cada sistema de rega perde uma certa quantidade de água devido a percolação, escorrimento e evaporação.
Assim, um sistema com 70% de eficiência aplica somente 70 l de água ao jardim por cada 100 l aplicados.
A pessoa responsável deverá pois avaliar a eficiência do sistema e depois, se necessário, fazer as correcções exigidas.

Com 100 litros aplicamos 70 litros

Se queremos aplicar 100 litros

X = 142 litros

Teremos que aplicar 142 litros de água para compensar a menor eficiência do sistema.

NOVAS PLANTAÇÕES

Um jardim recém plantado, com rega por aspersão, necessita mais água, com respeito aos cálculos da ETj.
A maioria das raízes de uma planta nova estão confinadas ao cubo de sementeira e a água disponível será só a que aí se deposita e em alguns casos a do solo adjacente.
Os aspersores regam toda a zona, resultando daí que a maioria da água fica fora da zona útil.
Assim um jardim recém plantado e com rega por aspersão que necessita um valor estimado de ETj de 2000 l por semana, poderá requerer um volume de 4000 l somente para fazer chegar os 2000 l à zona radicular.
Obviamente esta não será uma maneira eficiente de atuar. Nesta fase seria mais correto e eficiente recorrer a rega por gotejamento ou manual.
Se utilizarmos um sistema de gotejamento, podemos colocar a água mesmo junto à raiz, e considerar a eficiência 100%, ou seja aplicar exatamente a água estimada pelo cálculo de ETj.
Todavia podem haver plantas de distintos tamanhos (árvores, arbustos) que requerem diferentes dotações.
Assim, segundo o tamanho da planta podemos colocar um número distinto de gotejadores por planta de modo a conseguir uma boa uniformidade de rega.

CONCLUSÕES

É importante ter em conta que os valores ajustados não são absolutos. Servem como orientação para estimar as dotações de rega das plantas de jardim. Recomenda-se que os responsáveis se informem junto de especialistas na matéria no caso de terem menos experiência.
Todavia este será um bom método para manter as plantas com uma qualidade e aspecto aceitáveis. Este método pode resultar também útil nas estimativas prévias ao projetar um jardim.
À medida que obtenhamos mais informação sobre o uso da água pelas plantas, a influência do microclima e da densidade poderemos corrigir e ajustar o cálculo do Kj.

Por ora este método serve sobretudo como ponto de referência prático para uma rega mais efetiva e eficiente.

Bibliografia consultada
Doorenbos J e Pruit W. O.: Las necessidades de água de los cultivos. Estúdio FAO: Riego y Drenaje. Nº 24 – Roma 1976.
Doorenbos J e Kassan A. H.: Efectos del água sobre el rendimiento de los cultivos. Estúdio FAO: Riego yDrenaje. Nº 33 – Roma 1979.
Veschambre, D et Vaysse, P. : Memento goutte à goute. – Guide pratique de la micro-irrigattion par goutteur et diffuseur. CTIFL-INRA. – Paris 1980.
Rosa, A . – Folha para as aulas dos cursos de iniciação em horticultura. Arquivo da formação profissional. – Patacão 1984.
Rosa, A. : Rega localizada em horticultura protegida – Guia do extensionista. DRAALG – Faro 1995.
Costelo, R. L, Mayheny, N. P, y Clark, J. R.- Traduccion: Silvia Bures de: “Estimating water requirements of landscape plantings. The landscape coefficient method”. Cooperative Extension University of California, Division of Agriculture and Natural Resources. Hoja 21493. Ano 1991 (Publicado na revista espanhola “Horticultura 108- Octubre 95).

Autor: Armindo Rosa

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